quarta-feira, 1 de julho de 2020

Coaching, coachers e o mundo das carências.

"Coaching" é um termo que está na moda e é aplicado em vários ambitos, tanto na esfera profissional como pessoal. Nasce da necessidade de haver uma mentoria numa aprendizagem de determinado assunto, inicialmente em ambiente profissional, e que rapidamente escalou para a esfera pessoal, levando até à vulgarização da palavra "coacher" também usada já com muita amplitude.
O exemplo que mais constato, porque sou praticante de desporto e há muitas conversas sobre o assunto, é a recente vaga de "coachers" e procura de "coaching" por parte das pessoas que estão a retomar ou a iniciar uma atividade física e sentem que precisam de orientação técnica e emocional para conseguir alcançar objetivos vários como: melhorar a saúde; tonificar músculos; perda ou aumento de peso; fortalecimento das articulações; aumento da flexibilidade; recuperação da calma e paz de espírito.
O sucesso desta atividade tem vindo a manter a palavra na moda pois, regar geral, o ser humao funciona bem mediante estúmulos, sejam eles materiais ou imateriais. No caso do desporto, a sensação de recompensa é grande dado que o retorno ou resultado são rapidos e muito visíveis, pois mexe com a química cerebral e corporal e a sensação de satisfação atinge picos por vezes, raramente experienciados.
Paralelamente, a percepção da necessidade de orientação e motivação criou um nicho de mercado detetado por entusiastas que se dedicam a desenvolver esta atividade, misto de personal trainer com psicólogo motivacional, o que instaurou ainda mais a moda e a procura.
Pessoalmente, sou coacher de mim mesma no que ao desporto diz respeito e adoro o termo treinador, professor e, nos depostos de combate ou artes marciais, um/a mestre. Profissionalmente, gosto muito de ter ajuda, seja de colegas, professores, formadores ou mesmo dos queridos amigos que sabem daquilo mais do que eu.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

Desalento

A permanência silenciosa
Sem apelo nem agravo tenho que dizer que a situação perpetua-se. Dura, certeira, errada, enraizada e sempre dolorosa.
Todas as mulheres sabem o que isto é. Podem não saber que é pela sua figura física e então sabem bem como são as piadas sobre a inteligência e as capacidades menosprezadas. Se algum apetite físico despertam, então sabem, para além daqueles, os argumentos subereptícios ou as graçolas bossais ouvidos e vividos com medo constantemente.
Há um momento em que duvidamos de tudo e quase tentamos acreditar que é demais e que somos nós a ver demais onde não há. Porque a primeira coisa que recebemos, ao falar sobre o assunto, num muito tímido pedido de socorro é algo que nos deixa envergonhadas: não será exagero? Não estarás a interpretar mal? Isso aconteceu mesmo assim, ou eras tu que estavas muito sensível?... E as perguntas explícitas e implícitas são todas, sempre, de dúvida.
Por acaso alguém já se dignou, numa conversa de jantar de amigos ao fim de semana de questionar:
- Então, como correu a semana? Houve algum insidioso ou piropo menos próprio?
E sim, aos casos que causam desconforto, bem podia ser um tema de conversa normal e permanente!
Viver como vítima e achar normal, ter capacidade de fazer de conta e ter um brutal jogo de cintura são características que nunca vêm descritas num anúncio de trabalho. Quanto mais em situações em relações sociais e de lazer.
E quando parece que rebentamos e começamos a falar, num pedido de ajuda interminável, de esgotamento do próprio ser... Quando não lembramos a existência sem a constante condição de fugitiva intermitente, e há um pedido de ajuda real, sincero e soberano, o que enlouquece e destrói a alma é o silenciar deste grito, pura e simplesmente pela inoperância, no fazer de conta que toda a situação faz parte da rotina.
Não são só as mulheres que se habituam. São também os homens, até os delas, que se habituam. "Porque é assim. Sempre foi assim. E estás a exagerar.
A maior parte de nós cala-se para sempre. E continua a ser vítima, calada. Mas os olhos, os gestos, a vontade, a alegria, essas morrem todos os dias mais um bocadinho, e cada vez mais depressa.

A quem prometeu ajuda e tinha até o dever de cumprir, o meu enorme desprezo. Porque aquele que agride, fá-lo e tem isso contra ele. Quem promete ajuda e até o pode fazer e não faz, esse, cria expectativas, ajuda a sonhar e em pouco tempo incendeia e destrói  qualquer hipótese de acreditar em seja o que for, de novo.

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

A seu tempo o braço erguer-se-á.


... Quanto ao estado da nação, e do Mundo todo - na verdade - o que custa é perceber que o ser humano é fácil de manipular ao ponto de fazer esquecer os ideais apenas lógicos de Educação, Saúde e Habitação.
O século passado pautou-se por grandes convulsões e evoluções ideológicas que agora, aparentemente parecem esbatidas.
Mas na verdade o que vejo é que um pouco em cada canto há pessoas combativas, há organizações interventivas, há movimentos com ideias e bons ideais que efectivamente praticam. Mesmo debaixo destes toldos democráticos, há as boas causas: com efeitos.


Não será esse o condimento da vida?

Quando penso que o Mundo podia estar a caminhar para a perfeição e que era tudo lindo como um sonho, chego a ficar arrepiada com a possibilidade doutrinal de um Paraíso, não no céu mas, na terra. Creio que isso tiraria muito do sentido de Justiça e da Filosofia em que nos apoiamos, ainda assim.
O Mundo é feito de mudança? Ou não é?

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Ai Portugal, Portugal.

Uma sexta-feira como outra qualquer. Em que as pessoas circulam numa azáfma aparente porque o sol que se mantém faz abrir mais uns sorrisos, dá tempo de paragem nos passeios com um pouco mais de disposição para uma troca de palavras com a laracha típica portuense, sempre a roçar a malandrice que se topa na expressão.

E eis que à hora marcada o motorista não fecha logo a porta porque uma senhora tinha ido "ali ao quarto de banho num instante". E tudo bem... porque é de bem.
Entre ver o meu rico lugar ocupado e ser desocupada do melhorzinho que apanhei logo a jeito, tudo bem também. Porque já tinha feito um scan rápido à ocupação da viatura e sosseguei pois as opções eram múltiplas, e junto à janela, para encostar a cabecinha e dormir praticamente toda a viagem, que é algo que faço ponto de honra.
Quer confessemos, quer não, automaticamente procuramos a pessoa gorda, a adoentada que tosse ou a que apresenta tiques... que podem bem ser o de falar muito e porque sim, ou bater com o pé numa tremideira de enlouquecer o mais santo.
Não me contrariem - que o clima não influencia e que faça sol ou faça chuva, que é tudo igual... Porque não é!

 Logo à partida, a hora de chegada é mais provável de ser a agendada. Depois, reflexo de toda uma disposição que abraça o fim de semana, o rádio é ligado, alto e bom som, mal entramos na A1. E a Rádio Comercial a abusar de Shakiras e Iglesias ou Ricky Martins(?) que eu nem sabia que tinham tempo de antena - literalmente - numa das poucas emissoras que me faz parar um pouco em zappins de final da tarde dentro da minha querida e velhinha viatura. Para piorar, entre anúncios de Mexefest, e uma ou outra banda com concerto marcado, leva-se com os descontos do Intermarché, as maravilhosas promoções do preço do kilo do bacalhau, mas só atè 4a feira e, ainda nos avisam que os champôs estão com um preço incrível se pedirmos um cupão à Leopoldina que vai estar a animar a criançada no fim de semana em Algés.

 Entratanto já eu tinha olhado ameaçadoramente para dois jovens senhores que vou designar por Chineses porque não vou perguntar a nacionalidade, porque pouco adianta que não vamos tentar falar Inglês, Francês e muito menos Espanhol. E Português está fora de questão porque ía dar por mim a falar alto como se eles fossem surdos a tentar explicar-lhes que podiam, POR FAVOR, falar mais baixo (sussurrar é difícil fazer/dizer em qualquer língua) e que, para isso fosse mais prático, também, estarem os dois lado a lado em vez de um atrás do outro. Páh... nem consigo começar a entender o que faz qualquer pessoa a achar normal estar a ter uma conversa... IN-TER-MI-NÁ-VEL com o pescoço torcido para o lado da janela para o amigo de trás o ouvir e, vejam lá, até responder?
Ou estas pessoas devem ser (que até são) extremamente cumpridoras e levam muito a sério o número do lugar que lhes calhou no bilhete OU o senhor que ía atrás já estava delicadamente a tentar proteger-se de 3 horas e meia de monólogo monocórdico, nunca eu sabendo sobre o quê.
Sei que, até eu me virar para trás e pedir com gestos ainda suaves para diminuirem os decibéis, o assunto não seriam anedotas com certeza. E eis que ficamos apenas com os falsetes duma cantora qualquer até que um senhor na minha mira - perigosa já - resolveu ligar um tablet ou similar, por um filme e ouvi-lo... sem auscultadores.

 Nesta altura eu compreendi a totalidade daquilo que já sabia: o clima influencia os comportamentos!

Aprendi mais qualquer coisa, que é sempre algo posistivo: nunca esquecer o querido companheiro MP3 em dias de sol para uma viagem Porto-Lisboa - não vale a pena descarregar umas baladas no telemóvel sofisticado porque a bateria deixa-me ficar mal amiúde!

Em dias cinzentos  invernosos é tranquilo porque vai tudo macambúzio e até o motorista deixa o rádio baixinho.E agora que se começa a ouvir a Antena 3, há um ligeiro bichanar intermitente de alguém que não vou identificar porque já fui escorregando pelo sofá a preparar-me para uma soneca de beleza, que a entrevista que tenho às 15h pode vir a mudar toda a minha vida e a do meu baby e mamãe também... em dias de sol... e fora de Portugal.

sábado, 27 de julho de 2013

Assim.


É mesmo porque não estamos perto um do outro.

Que não adormece na minha cama.

Não vemos um filme juntos.

Não implicamos por nada.

Não sentimos juntos o alívio das férias.

Não nos abraçamos por cada piada do dia.

Não me pega ao colo!

Não me pede para comprar um bife porque lhe apetece muito.

Não ouço a voz dele a cantar distraído.

É porque não estou lá para brincarmos na água horas a fio... como sempre tem sido.

Como tanto adoramos.

E adormecermos esgotados.

Depois de uma massagem.

Em que está sempre a sorrir de olhos fechados.

Somos filho e mãe assim!

sábado, 22 de junho de 2013

Quotidiano

Não tem sido fácil manter um equilíbrio.
Não tem sido possível ter noites de sono pacíficas.
 
E tudo isto é provocado por muitas emoções que me fazem gostar da vida, mesmo não gostando dos episódios desagradáveis diários que me visitam.
Digo isto porque já há muitos anos que estou absolutamente convencida de que, por algum motivo, atraio situações, senão más, pelo menos de grande desconforto. Sobres aquelas, falo poucas vezes e com um número restrito de pessoas... que já conhecem esta minha "característica" e, portanto, ouvem com uma certa curiosidade de sorriso no canto da boca, e pensam ou dizem mesmo: Então conta lá o que te aconteceu desta vez? 
 
Muitas das situações são as que chamo de miudezas, sem qualquer importância mas que me deixam num estado de irritação capaz de dar com a cabeça na parede. E depois há um crescendo que se embrulha entre dias e temas, novidades e consequências.
 
Já dei comigo a pensar que talvez fosse mais fácil ir-me fechando e resumindo a confraternização a um número cada vez mais restrito de gente. E já passei por fases em que o tentei fazer.
Mas até um simples atravessar a rua, comigo, pode não ser pacifico.
 
Porque é que eu hei-de ficar calada e sem reacção à prepotência com que alguns dos muitos senhores(as) ignoram propositadamente uma pessoa claramente receosa em atravessar na passadeira do seu direito? E porque é que eu, em passos mais largos, decididos e raivosos não hei-de praticamente obrigar o condutor(a) a atropelar-me e esperar com a maior das calmas e sorriso rasgado para o transeunte e de forma a que este percorra aquelas riscas brancas, o que pode demorar -  meu deus! - UM precioso minuto destas vidas apressadas?
 
E durante o dia vão sucedendo episódios emocionantes assim (só para mim, claro) mas que me mantêm sempre muito atenta e com a certeza de que conheço a cada dia, e cada vez melhor, o íntimo das espécies humanas. Porque reparo em cada gesto de cuidado e carinho também... muitas vezes ao longe. E só sorrio.
 
Há cerca de duas semanas atrás, numa estação de serviço, adoraria ser polícia, equivalente ou, simplesmente um homem. Tive que aturar um velhote (e uso a palavra perjorativamente) a mandar-me calar aos gritos porque o assunto não era comigo. Assunto que obviamente era comigo e com todos os que estavam presentes nas filas de pagamento, na zona de bar ou revistas e que fizeram de conta... TODOS. O caso não era grave pois era apenas um velhote a gritar e disparatar com o jovem funcionário. E sem nenhuma razão!
E eu estava na outra fila, com a funcionária de meia idade. que levantando bem a voz agradeceu a minha intervenção, frisando-a como única e desabafou - alto e em bom som também-  de que eram enxovalhados e amiúde ameaçados -  e que a atitude era a mesma de todas aquelas pessoas/clientes ali. 
O tema nem merece atenção porque era pura implicância e MUITA cobardia, mas o individualismo bem vincado naquele momento seco de qualquer solidariedade e até racionalidade, para mim, foi uma afronta.
E qualquer dia alguém vai receber o famoso telefonema da cadeia, feito por mim! Porque foi por cobardia (assumo) que não fui de encontro ao senhor e lhe despejei um punhado de terra no depósito que abastecia depois de ter pago e dado o pobre espectáculo.
 
Mas, apesar de já serem mais de 30 anos (posso dizê-lo com esta precisão) a assistir, ver, rever e interferir em percalços do quotidiano, o meu coração dispara e deixa-me num estado de alerta e como que de vitória antecipada quando leio, vejo e assisto a grandes tumultos que percorrem este planeta há anos e que compreendo cada vez mais.
 
O que vejo é uma verdade: há cada vez mais pessoas. E as há cada vez mais conscientes, informadas, pensantes e actuantes.
Por todo o planeta ocorrem coisas incríveis, que de entre muitos encontrões, fazem parir mais gente cooperante, interessada, solidária, que sacrifica horas pelo bem estar de outros, que se esfola para que a alfabetização seja menor, que estuda, projecta e constrói protótipos que limpam oceanos das nossas impurezas e abusos constantes, que fazem crescer universidades de conhecimento sólido dentro e uma perspectiva real de crescimento sustentado, que se voluntariam para além das mais de 40 horas de trabalho semanais, os sogros e pais carentes e filhos também... intermináveis exemplos de gente merecedora de andar neste planeta.
 
Se isto não me deixar feliz, mais nada o deixará.
 
Nota: qualqur gralha, erro ou imprecisão, dou-me ao direito de culpar o Acordo Ortográfico.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

E esta chuva pode mesmo ter vindo na horinha certa

Para mim as coisas acontecem por acaso, do ponto de vista esotérico.
 
Se eu fosse crente num Além ou fiel seguidora de uma qualquer corrente religiosa das tantas que teimam em forçar o crente a sê-lo, eu diria que está a chover e que é de propósito.
  
Para uns, porque os meninos entraram de férias, anda a portar-se cada vez mais indisciplinadamente não só na escolar como,,,, por todo o lado, e então esta chuva e friozinho é um castigo divino
 
Uma chuva e friozinho bons sinais de que a greve de professores deve acontecer e é mais do que justa.
 
Um aconchego extra para os estudantes que, na ansiedade normal (ou acima do normal porque têm sentido mais dificuldades de aprendizagem), aproveitarão para se acalmarem um pouco, estudar mais um pouco também e, muito importante, reflectir mais também sobre os enúmeros motivos que levaram a esta decisão de greve.
 
Felizmente já sei directamente de alguns estudantes que  muitos deles estão de acordo, apoiam os professors,porque, quer queiramos ou não, são eles que convivem com os alunos diariamente e de ambos os lados vão tendo uma noção geral de que a degradação do ensino vêm muito do que está acima deles. Vem de decisões de alguns elementos que  nem de perto, nem de longe, fazem a mais pequena ideia do que  é leccionar, ser-se aluno, ter-se condições dignas e estimulantes à aprendizagem natural, não forçada e  sem meios.
 
Calma, sem meios nuns sítios, porque numas escolas ou liceu situados em zonas Classe A, pouco ou nada falta. Sabe-se que faltam alunos nas cantinas porque podem ir aos cafés e restaurantes comer o que entenderem sem vigia, pelo quádruplo ou mais  do preço da refeição da cantina. Sabe-se que têm maços de cigarros a enxertar logo às 8h10 da manhã.... e mais nem digo.
  
Saberão estes que tantos e tantos professors capazes estão a passar dificuldades tremendas? Que a desestabilização de qualquer ser humano faz diminuir a força do seu desempenho e a disposição com que o faz, e que se quer boa, óbviamente?
 
Carreguem as escolas de professors entusiasmados, equipamentos modernos, condições decentes, no mínimo e pode ser que voltemos a ter jovens a gostar de ir para a escolar a qualquer hora, por saberem que lá sabem mais e uma maioria tem lá acesso ao que não tem fora, dentro de casa, por exemplo.
 
Pensem na luta de professors como a vossa porque é o que eles estão também a fazer. Essencialmente a fazer. Pois quem cá ficarão mais uma vida inteira são estes jovens estudantes!!!
 
Tentar impedir que Portugal fique resumido a uma maioria de desinteressados da vida e de tudo o que este planeta e o pensamento nos podem oferecer.
 
Não se nasce feliz. Constrói-se. Cultiva-se. 
E esta chuva pode mesmo ter vindo na horinha certa.